O Orçamento de 2019 e as Notas Fiscais na Gaveta.



O Orçamento de 2019 e as Notas Fiscais na Gaveta

Por: Betinho Marques

Como dito em várias oportunidades, o atleticano se interessa por tudo que faça parte da vida do clube (Medicina, Negócios, Engenharia e Direito então, nem se fala). O Fala Galo teve acesso ao orçamento que será discutido no dia 27/11, na reunião do conselho. Como rege o estatuto, o documento deve ser enviado de forma antecipada para ser objeto de estudo daqueles que podem argumentar sobre todos os seus pontos para fins de aprovação, os conselheiros.

*Entendimento das Receitas*

Comparado ao ano anterior que teve um orçamento previsto de arrecadação de cerca de 296 milhões, as receitas previstas ficarão quase no mesmo patamar, indo para R$304,8 MI, uma variação de 2,84%.

Por várias análises e resultados, podemos fatiar, assim como uma Curva ABC, que cerca de 80% das receitas do clube estão no tripé: *Transmissões + Transferências+ Patrocínios*. Para o orçamento de 2019 os números estão assim:

43% em transmissões = 131,4 Mi;
23% em Transferências = 70,0 Mi;
12% em Patrocínios = 35 Mi;
Subtotal de 78% ou R$236,4 milhões de reais - Comportamento esperado para o cenário do futebol atual.

Os 22% que faltam para compor as receitas dividem-se em:

14% em: 5% de GNV + 5% de bilheteria + 4% competições – 43,4 Mi;
8% em: 0,7% Loteria + 3% Condomínios + 0,5% Clubes de lazer + 0,5% Exploração da marca + 3,3% Diamond – 25,0 Mi
Subtotal de 22% ou R$68,4 milhões de reais – Destaca-se *Diamond, Bilheteria e GNV* como itens fundamentais e a pouca receita com a exploração da marca que não chega a 1%.

*Despesas que atormentam*

A primeira coisa quando se abre a fatura do cartão é ver o total do problema para decidir entre respirar ou chorar. Desta forma, sigamos para o resumo da obra:

50% em Despesas Operacionais - Sendo que Despesas Operacionais + Encargos + Despesas Administrativas + Operacionais somam 150,8 Mi (123,2 + 27,6 Mi)
30% Amortização de Empréstimos + Dívidas e Acordos (20 +70 Mi) – 90 Mi
12% em Despesas com Competições + Impostos e Taxas 35,41 Mi(19,53 +15,88 Mi)
6% em Despesas de Negociações de atletas – 20 Mi
1% em Obras e Benfeitorias – 3 Mi
1% em Acordos Trabalhistas + Parcelamentos Fiscais/Profut – 2,9 Mi
Observação: os percentuais estão levemente arredondados para facilitar a didática e entendimento das essências do documento.

*O que “pega” nas despesas?*

Observando as despesas, assusta-se quando se percebe que 50% estão destinados às despesas operacionais, entretanto, 80% delas estão no futebol. Contudo, o que assusta é o aumento no custo administrativo que, comparado ao ano anterior, passou de 11,74 Mi para 27,49 Mi, um aumento de 234% neste item.

Cabe aos conselheiros, questionar quais as variáveis foram capazes de fazer este corpo administrativo “dinossáurico” crescer tanto.

Sobre as dívidas com financiamentos e bancos os números já estão bem conhecidos do público. A possibilidade de cortar onde não se tem resultados medidos é a melhor saída. Aproximar da tecnologia e de trabalhos com fluidez em ambientes enxutos pode diminuir os custos da folha.

Claro, o futebol é o que mais gera despesa, porém é a razão de ser do clube e de onde se tira, de fato, o lucro quando há. Antes de cortar dele, corta-se de outro lugar. Pão e leite não podem faltar na padaria!

Seguindo as análises, podemos observar que a expectativa de despesas com negociações de atletas gira em 20 milhões de reais, já a expectativa de venda é de 70 milhões. Portanto, o saldo desta conta seria 50 Milhões em 2019, algo que pouco mudou em relação ao ano de 2017, que tinha expectativa de vender 50 Mi e gastar com essas transações 10 Mi, obtendo um resultado de 40 Mi nas negociações.

*Jogadores com Potencial de Negociação*

Para ter um saldo de 50 milhões em vendas, o Atlético precisará negociar jogadores e potenciais revelações. Para compor essa expectativa, Cazares, Maidana, Gabriel, Emerson, Bruninho, além de rendas de jogadores que estão emprestados poderão dar fundo ao caixa estimado. A grande questão é: se vender quem virá?!

*As bilheterias e seus cadeados*

Aprofundando nos dados referentes às bilheterias + GNV, observa-se uma ponderação do orçamento de 2019, tamanha a frustração de renda de 2018. Contudo, fazer o futebol sem ações drásticas poderá ter ainda números insuficientes no resultado. Observemos:

O jogo Atlético x Palmeiras teve renda bruta de R$222.550,00
O líquido do borderô para o Galo foi de R$138.597,94 (62%) - Números parecidos com os outros boletins;
Percebe-se que quase 40% não vai para a mão do clube;
Pegando: receitas estimadas - despesas estimadas (bilheteria+ GNV+ competições), ficaria assim: R$43.400.000,00 - R$19.530.000,00
Resultado esperado = R$23.870.000,00
Considerando 50% deste resultado (R$23.870.000,00) em bilheteria = R$11.935.000,00 só de ingressos;
R$11.935.000,00 seria a renda líquida com média de 18.000 pagantes em 35 jogos como mandante; assim, o Galo teria que ter uma renda líquida de R$341.000,00 ou renda bruta de R$550.000,00 por jogo, considerando cerca de 38% de despesas por evento.

Para ter atendido este item com satisfação orçamentária, teríamos que pegar R$550.000,00 (renda bruta) e dividir pelo público médio de 18.000;
O resultado seria um tíquete médio de R$30,55 reais por jogo. Portanto, é uma tarefa observar:

É vital ir para a Libertadores;
Observar o tipo de estádio para cada competição;
Sempre atentar que 2018 não deu certo esta previsão e que o tíquete médio bruto saiu entre R$8,00 e R$11,00, por várias oportunidades.

*Sobre o GNV*

Considerando os números apresentados no documento e os estudos, o programa de sócios GNV representa cerca de 5% das receitas do clube e com seu resultado (tirando as despesas) cerca de 3,5% do orçamento total. Sendo assim, quase R$12.000.000,00 é um número dentro da análise que conta, segundo o torcedômetro com 114.718 sócios (em 20/11/2018), ou seja, o lucro por sócio/ano seria de quase R$105,00. O produto tem melhorado e pode ser mais explorado. Tudo depende da relação simbiótica: Time/Torcida + Competições + Resultados.

*Exploração da marca*

A exploração da marca estimada no documento é de 0,5% ou R$1.500.000,00 e reduziu em relação ao ano anterior que era de R$2.000.000,00. O Galo usa ainda de forma ineficiente sua marca. Uma situação simples a se considerar é ter receitas legais sobre uniformes de Consulados e Torcidas Organizadas. É ótimo para todos os lados e o clube ganha com o giro do seu nome de forma real e não velada. Outra ação é fomentar escolinhas em franquias. Inúmeras crianças jogam até nas escolinhas do América-MG em Brasília, mas o GALO não tem esse “braço” de negócio. Essa falta perde na marca, perde num possível talento e deixa de faturar em receitas.

Aniquilar o “corpo burocrático dinossáurico” sem medição de resultados e colocar o Atlético para explorar sua força com tecnologia é uma ação urgente para equalizar o Clube nos próximos anos, claro, além de executar o Estádio e ter sua independência financeira.

*Resultados Esperados e Conclusões*

Passados todos os inúmeros valores e percentuais, além de vários prismas de visão, ficam várias ponderações. Observante ao documento orçamentário proposto, o lucro anual de 2019 seria de R$2.663.605,00.

O clube é gerido com receitas e custos de três grandes grupos: Futebol + Clubes de Lazer + Administração:

Futebol - O resultado estimado do futebol é de R$111,4 milhões de reais, ou seja, o “carro chefe” que gera resultado - lucro;

Clubes de lazer – Espera-se resultado planejado de 1,35 milhões de reais.

Administração – Resultado Negativo – Considerando para o item despesas financeiras (empréstimos + financiamentos+ dívidas trabalhistas) - 92,40 milhões de reais e -17,69 milhões de reais dos custos administrativos – Totalizando na administração, um resultado “vermelho” de - (R$110.092.000,00) na “doente” gerência do Clube, que traz prejuízos por mais de décadas, com inúmeros presidentes e administrações escravas de juros e gestões “mancas”.  A conta chegou e precisa ser paga!

Portanto, quem salva a administração que não gera resultados mensuráveis é o futebol, se o objetivo fim que é o esporte bretão não gerar resultados, o clube entra em colapso administrativo e as contas só pioram.

Orçamentos em todos os lugares são bem analisados e ponderados com as margens de segurança que uma empresa deste porte pede. Portanto, ao Conselho, esta análise e vigilância, além da aprovação, deve ser avaliada e ficar na cabeceira das camas para mudar rotas e fazê-lo funcionar. O orçamento é o norte, portanto, é muito mais que assinar.

O Atlético é uma empresa que gira mais de 300 milhões e por vezes fica com prejuízos ou lucros ínfimos previstos de menos de 1%.  O Galo precisa de conselheiros ativos, de uma estrutura leve, que utilize a tecnologia para os processos e que pense todas as economias para usar no futebol que é o que mantém de pé a sua existência.

O orçamento é uma diretriz de realidades que se baseia em centros de custo e que avalia quem gera lucro e prejuízo, é um documento que deve visitado todos os dias. Assim como notas fiscais a pagar, nunca pode ser colocado na gaveta. Não se vive sem ele após a aprovação, e se ele não for fundamentado, tornará sim um filme de terror apocalíptico para quadros nem sempre reversíveis.
Tudo no Atlético é sério demais!

Galo, som, sol e sal é fundamental!

#FalaGalo

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