Com a proposta orçamentária, começa o 2019 do Galo.


Depois da peça de ficção apresentada como orçamento para 2018, a Diretoria do Atlético encaminhou, nesta semana, a previsão orçamentária do Clube para 2019. De início, cabem vários elogios: a peça é viável, prudente e coerente, inclusive, com o discurso adotado em 2018. Ainda assim, há ressalvas.

O total previsto mostra que os valores estarão bastante próximos a 2018 pois a variação é inferior à inflação do período. São 304 milhões, cujo maior risco está na venda de atletas (70 milhões), cujo valor elevado dá aos possíveis interessados na compra um poder de barganha. Afinal, precisamos vender.

As receitas de bilheteria, Galo na Veia e premiações, previstas em 43 milhões, são 33% inferiores ao previsto para 2018 – o que mostra que estávamos corretos ao tratar o orçamento 2018 como inviável. Porém, o detalhamento destas receitas não descreve valores de premiação, somente bilheteria e sócio-torcedor. Por exemplo, o atual 6º lugar no Campeonato Brasileiro rende 2,6 milhões de reais de premiação (e não deve ser confundida com as receitas de televisionamento). Copa do Brasil, Libertadores e Sulamericana também oferecem prêmios. Como referência, uma verdadeira tríplice coroa – Brasileiro, Copa do Brasil e Libertadores – gera mais de 100 milhões de reais em premiações. A exclusão desta previsão na peça orçamentária mostra uma precaução pertinente e, também, uma margem para captação de receitas e investimentos acima do que o orçamento prevê.

Clubes sociais, o Diamond Mall, loterias, patrocínios e as receitas de televisionamento seguem um padrão com os últimos anos, com a manutenção dos valores. O que já é bastante razoável no momento de crise que o país passa.

Bastante lamentável é, como já tratamos em outros textos, a falta de interesse, ousadia e ambição para exploração da marca CAM. O orçamento 2019 prevê redução de 2 milhões para 1,5 milhões nas receitas desta rubrica. É irrisório! A marca Atlético é muito forte e ainda tem no patrimônio personagens capazes de gerar produtos e serviços diferenciados. O Galão, o Galo Doido, o Galo Volpi (que parece não poder ser explorado comercialmente), o Galo Ziraldo... Como exemplo, a CBF vendeu cada unidade de pelúcia do “Canarinho Pistola” por R$ 200, e, em muitos momentos, faltava do produto em sua loja. E um detalhe interessante: o “Canarinho Pistola” foi inspirado no Galo Doido.

Quando tratamos as despesas descritas no plano orçamentário, ficam mais claros os erros absurdos do orçamento 2018.

A previsão de despesas com pessoal/imagem no futebol é reduzida de 105 milhões para 100 milhões, o que dá uma folha mensal de 8,4 milhões, já incluindo provisões para férias e 13º salário.

O mais impressionante equívoco está nas despesas com pessoal administrativo, que passam de 6,88 milhões em 2018 para 17,9 milhões em 2019. Não há explicação na peça orçamentária apresentada. Quanto a este item, alguns pontos importantes:

- o valor previsto para 2018, 6,88 milhões, estava subestimado. O valor aplicado em pessoal/encargos em 2017 foi de 9,38 milhões. Seria necessária uma redução de 26%. Senhores Conselheiros, como aprovaram isso?

- o valor previsto para 2019 em comparação ao realizado em 2017, tem uma variação de 91%. Ainda é muito elevado. Senhores Conselheiros, vão aprovar isso sem uma explicação adequada?

O mesmo erro no planejamento 2018 acontece nas despesas administrativas/operacionais pois a previsão de 4,8 milhões é muito inferior aos 14,7 milhões aplicados em 2017, conforme balanço patrimonial. A previsão para 2019 é de 9,5 milhões, o que representa aumento significativo em relação à previsão para 2018, mas representa uma redução de 35% em relação a 2017.

As despesas com competições tem aumento de 16,78 milhões para 19,53 milhões, uma variação de 16,38%, que inclui inflação e aumentos em custos de bilhetagem, aluguéis de estádios e taxas/impostos em jogos como mandante, que, em média, consomem 45% da arrecadação em bilheteria e sócio torcedor. Há dois pontos a serem observados:

- o aluguel da Arena Independência é pago à gestora do estádio, da qual o Atlético é sócio. Daí, é importante identificar qual a receita gerada nesta parceria, que não está descrita na peça orçamentária.

- com a ampliação do programa Galo na Veia, o custo de bilhetagem (impressão de ingressos e emissão de cartões do sócio torcedor) deveria ser reduzido, especialmente se considerarmos que os investimentos para operação do programa já devem ter sido amortizados. Portanto, avaliar que as despesas com competições representam 45% das receitas de bilheteria e sócio-torcedor é absolutamente simplista. É necessário atuar para reduzir este percentual.

Por fim, chama bastante atenção os dados relacionados ao endividamento. A amortização de empréstimos e despesas financeiras tem redução de 48,75 milhões para 20 milhões (redução em 59%) e o pagamento de dívidas e acordos passa de 107,95 milhões para 92,9 milhões (redução em 14%). Pode (somente teremos certeza com a publicação do balanço 2018) significar que houve redução significativa no endividamento ou uma renegociação. De qualquer forma, é muito relevante e mostraria um resultado coerente com a tal “austeridade” pregada em 2018.

A principal conclusão é que a peça orçamentária é MUITO melhor elaborada que a apresentada para 2018. Prudente, coerente e viável. Porém, ainda mostra um Atlético pouco ousado na busca de ampliar suas receitas e, principalmente, com um elevado custo administrativo. Como uma peça de planejamento, esperamos que a realização das atividades nos leve a resultados superiores que os apresentados no orçamento.

@denilsonrocha / @falagalo13

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